segunda-feira, 4 de maio de 2009

"Em Braga, o debate sobre o património tem sido uma verdadeira pedra no sapato do Partido Socialista" (*)

Em Braga, o debate sobre o património tem sido uma verdadeira pedra no sapato do Partido Socialista. A salvaguarda e a valorização patrimonial não se coadunam com uma gestão mais interessada no aparente dsenvolvimento, por vaidade própria, que vê na construção desenfreada o único índice de progresso.

Braga teve um crescimento apressado, ao ritmo dos interesses privados, de construtoras e imobiliárias, sem que tenha havido qualquer planificação, pondo em causa o seu património histórico e cultural, o seu potencial arqueológico e a qualidade de vida dos seus habitantes. Na cidade de Braga parece não haver regras, mecanismos legais ou instrumentos reguladores, capazes de controlar o apetite dos grandes empreiteiros. Em Braga tudo é possível. Invadir a encosta do Bom Jesus com betão é tão fácil como construir milhares de apartamentos em edifícios desprovidos de qualidade, enquanto o parque habitacional do centro histórico vai sendo depredado.

O urbanismo, filho mal amado desta histórica cidade, não colhe afecto e dedicação dos senhores que a governam há mais de 30 anos. Durante todo este tempo, em que o Partido Socialista açambarcou Braga para si, a cidade ficou completa e irremediavelmente descaracterizada, desorganizada e desbaratada. A qualidade de vida dos bracarenses ficou e está comprometida por opções francamente erradas de favorecimento dos interesses privados.

Um pouco por todo o concelho surgem as queixas e as denúncias de moradores sobre obras ilegais, trocas de terrenos premeditando a sobrevalorização, abusos e ocupação do espaço público, etc. Por diversas vezes ouve-se falar na imprensa local de processos judiciais que envolvem técnicos do município. Noutros casos estão mesmo em causa acções de políticos que ocupam lugares no exercício do poder local. Bem sei que muito se fala e pouco ou nada se prova. São consequências de um sistema capitalista em que o poder económico se sobrepõe a tudo o resto. A justiça tarda ou falha, mas é inegável a presença assídua de um clima de suspeição, o que, por si só, é muito negativo para as Instituições Públicas e para a própria Democracia.

Falar de património em Braga obriga a falar nos danos já causados, alguns irreversíveis como nos casos da construção do parque de estacionamento da Avenida Central, do abandono do complexo das Sete Fontes ou da artificialização do rio Este.

A Câmara Municipal de Braga há muito que deveria ter actuado na defesa e salvaguarda do património natural, arqueológico e arquitectónico da cidade, para usufruto e lazer da população e visitantes. Mas não o fez. Por isso pode-se afirmar que a Câmara de Braga escolheu, porque assim quis, e absolutizou, outras prioridades e valores.

Aqui em Braga fizeram-se grandes negócios, que deram lugar a grandes empresas, que fazem furor a nível nacional. Já não é só o urbanismo em Braga que vende notícias, também as empresas de cá têm esse dom. E nunca pelos melhores motivos. Vá-se lá saber quem apadrinha este jogo de bastidores.

(*) Carlos Almeida, líder concelhio do PCP de Braga e membro da Assembleia Municipal de Braga eleito pela CDU.

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