segunda-feira, 4 de maio de 2009

Fazer futuro (*)

Braga é, como tem sido amplamente divulgado, um Concelho com um vasto e diversificado património, legado das múltiplas vivências da sua História bimilenar.

Se, à vista “desarmada” do conhecimento científico, são monumentos como a Sé de Braga, o Bom Jesus, o Sameiro, o Mosteiro de Tibães, as Sete Fontes ou vários edifícios dos últimos dois séculos que mais impressionam do ponto de vista patrimonial, sou dos que acreditam que a nossa maior riqueza e o maior potencial de diferenciação assenta na vasta presença romana que deu origem à “Bracara Augusta”.

Se os diferentes activos já preservados em correctas parcerias público-privadas (como a Estação da CP, as Frigideiras do Cantinho, a Paularte, etc.) ou os espaços públicos (como o Museu D. Diogo de Sousa, a Fonte do ídolo ou as Vias Romanas intervencionadas) se unirem à recuperação premente do Teatro Romano, à musealização da Ínsula das Carvalheiras e a uma correcta abordagem a outros achados que possam surgir (como recentemente ocorreu no antigo Quarteirão dos CTT), o roteiro da Braga Romana pode assumir-se como um factor competitivo único na afirmação externa do nosso património.

Duas notas a este propósito. Em primeiro lugar, para clarificar que cada uma das componentes antes enunciadas deve ser entendida como peça complementar de um mesmo puzzle de valorização da nossa História, e que a especial aposta na vertente romana não põe em causa a premente estratégia de preservação e promoção das demais valias monumentais.

Em segundo lugar, para lembrar que, como múltiplas vezes vem sendo sugerido pelos próprios especialistas da Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho –entidade essa indissociável do trabalho que tem sido desenvolvido nesta área – os parcos exemplos de sucesso deste esforço de preservação ocultam uma multiplicidade de situações em que o respeito pelo património não esteve no topo das prioridades, fosse em obras públicas ou privadas.

Também por isso, defendi recentemente que a Autarquia deveria adoptar, em parceria com as entidades responsáveis pelos trabalhos arqueológicos, um Sistema de Informação Pública sobre o desenvolvimento das diferentes intervenções em curso.

De igual forma, visando suprir a falta de uma política integrada de preservação e promoção do património, em conjunto com a inexistência de um roteiro turístico especialmente vocacionado para o sector patrimonial, sugeri a possibilidade de adopção de um modelo de gestão assente na criação de um consórcio, similar ao que vigora em Mérida.

Em verdade, dado o êxito indesmentível deste modelo não só na recuperação da vertente arquitectónica e cultural da localidade espanhola, mas também e sobretudo da própria dinâmica turística e da afirmação externa da cidade, que se alicerçou na herança histórica como base de um projecto de futuro, Braga teria tudo a ganhar com um projecto análogo.

Para tal, defendi a integração de instituições como a Câmara Municipal, o Ministério da Cultura, a Universidade, a Diocese e entidades de natureza empresarial que se dedicam ao mecenato.

Se acrescermos a tal estratégia política para a gestão municipal neste domínio a tenacidade de organizações como a ASPA, a JovemCoop e diversas Juntas de Freguesia, bem assim como, a crescente abertura dos cidadãos Bracarenses para esta temática – como bem demonstrou a impactante Marcha pelas Sete Fontes, estarão reunidos os ingredientes para inverter o rumo de esbanjamento do nosso património e para encetar decisivamente a via da sua salvaguarda, valorização e divulgação.

(*) Ricardo Rio, Cabeça de lista à Câmara Municipal de Braga nas próximas Eleições Autárquicas pela coligação Juntos por Braga (PSD/CDS-PP/PPM), actual vereador no executivo municipal de Braga.

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